Rádio e a batalha pela atenção: Perspectivas e estratégias para 2024
Um dos principais desafios do rádio em 2024 é ocupar o máximo de tempo possível na rotina diária das pessoas. Na verdade, essa necessidade já vem de algum tempo na trajetória das emissoras de todo o planeta, mas se acentua ano após ano conforme novas opções de mídia surgem através do digital. E o tempo dos ouvintes também acaba sendo mais fragmentado com outras atividades diárias, também crescentes na vida de todos nós. Neste caso, o áudio leva alguma vantagem por não necessitar de atenção plena, ou seja, pode ser conciliado com outros afazeres. Mas é preciso manter os ouvintes ainda mais engajados com as rádios, de acordo com radialistas dos Estados Unidos.
A percepção vem de uma série de reportagens especiais do Inside Radio, veículo especializado na indústria de rádio dos Estados Unidos, que ouviu os profissionais sobre os desafios de 2024. Por lá, eles acreditam que a maior competição está pela 'atenção dos ouvintes', algo que vai além da seleção musical, segundo Colby Tyner, Vice-Presidente Sênior de Programação da Radio One/Reach Media. 'Com a enxurrada de opções disputando o tempo do consumidor, nosso desafio é criar experiências únicas, oferecendo mais do que recompensas monetárias'. A estratégia inclui ações como comemorações personalizadas de aniversários dos ouvintes, visando criar memórias inesquecíveis.
Jim Richards, da Vallie Richards Donovan Consulting, ressalta a importância de integrar essas experiências ao conteúdo transmitido. 'Estações que substituíram concursos de sorteios aleatórios por desafios interativos perceberam um aumento significativo no engajamento dos ouvintes', afirma ele.
Por lá, é comum premiações em dinheiro de forma explícita, mas a efetividade disso é discutida pelas emissoras, inclusive em congressos, como o que aconteceu no NAB Show 2023, acompanhado pelo tudoradio.com. O rádio dos EUA também aparenta ter um alcance maior de ouvintes do que o do Brasil, apesar de não ser possível a comparação direta entre pesquisas distintas devido às diferenças de metodologia. Mas o tempo médio por lá é bem menor do que o visto aqui, que está próximo de 4 horas diárias pelos ouvintes brasileiros.
A relevância é também encarada como uma espécie de palavra-chave, conforme Pat Paxton, da Saga Communications. 'Contrariando a narrativa de que "ninguém ouve mais rádio", precisamos reafirmar o valor do rádio com conteúdos que gerem emoção e conexão', diz ele. Justin Chase, da Beasley Media Group, enfatiza a necessidade de descobrir e desenvolver talentos que estabeleçam essa conexão com o público. 'Como indústria, precisamos aumentar nossos esforços para encontrar e desenvolver novos comunicadores que se conectem com nosso público e valorizar os talentos atuais'.
Ampliar a visibilidade e uso de plataformas diferentes
Chase e Strassell, da Hubbard Radio, observam benefícios significativos ao complementar o áudio das estações com conteúdo de vídeo em plataformas digitais. Esse fato é algo que já ocorre de maneira difundida no cenário brasileiro, onde é possível perceber que o vídeo passa a ser um complemento importante para o que é gerado em áudio, possibilitando um novo produto de mídia para ouvintes e parceiros comerciais.
John Boyne, da Coleman Insights, destaca a importância da visibilidade da marca no contexto da crescente competição multimídia. 'Manter nossas marcas em destaque na mente do público-alvo é crucial', comenta. Tyner enfatiza a importância de alcançar os consumidores em diferentes plataformas, como redes sociais e podcasts. E nisso, a criação de conteúdos que agreguem de alguma forma o que já é gerado em áudio pode auxiliar nesse processo de ampliação da exposição das emissoras.
Mantendo a relevância no futuro do rádio
Com o aumento de carros novos equipados com sistemas de entretenimento multimídia, o rádio também precisa jogar suas cartas contra uma gama mais ampla de opções, destaca o especial norte-americano. 'À medida que mais consumidores são apresentados a mais escolhas em um carro conectado, as marcas fortes permanecerão, enquanto as mais fracas serão deixadas para trás', explica Boyne.
Para manter-se relevante, Strassell enfatiza que o público deve desejar e buscar ativamente o produto da estação. O conteúdo deve ser atraente, e a promessa da marca deve ser centrada em como ela resolve um problema ou cria um benefício para o ouvinte.
Paxton, da Saga, está confiante de que o rádio manterá sua vantagem. 'Parece que, não importa quão conectados os carros sejam, as pessoas ainda encontram o rádio', diz ele. 'Se continuarmos a criar conteúdo cativante com personalidades ao vivo e locais, estaremos bem'.
De fato, um dos pilares a favor do rádio nesses ambientes é a facilidade de uso do rádio, acessível e gratuito. Esse também é um debate permanente nos mais diversos fóruns mundiais do setor, sendo inclusive um dos destaques do seminário de rádio do NAB Show 2023.
E por qual razão olhar para lá fora?
O tudoradio.com costuma observar esses pontos de curiosidade dos números do rádio internacional para mapear possíveis mudanças de hábitos e a manutenção do consumo de rádio em diferentes países. Assim como ocorreu no ano anterior, periodicamente a redação do portal irá monitorar o desempenho do rádio nos principais mercados do mundo e, é claro, fazendo sempre uma comparação com a situação brasileira. E, como de costume, repercutindo também qualquer número confiável sobre o consumo de rádio no Brasil.
Com informações do portal Inside Radio